quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Alemães abrem bar temático sobre polícia secreta comunista

Um bar temático baseado na temida polícia secreta da antiga Alemanha Oriental está dando o que falar na Alemanha. Enquanto os dois donos do negócio afirmam que só querem fazer uma sátira, representantes de vítimas da opressão do regime comunista afirmam que a idéia é uma brincadeira de mau gosto.

Situado em um bairro da região leste de Berlim, a poucos metros do prédio onde ficava o quartel-general da Stasi, o restaurante "Zur Firma" (à firma) serve bebidas e pratos tipicamente alemães orientais em um ambiente cercado de souvenires que lembram o aparelho repressor da extinta ditadura comunista.

Logo acima da porta de entrada, uma câmera lembra o eterno clima de vigilância imposto aos cidadãos do país. O equipamento adorna um letreiro com o escudo da Stasi e os dizeres "venha até nós, senão iremos até você". Quem se torna cliente preferencial, ganha uma carteirinha de "IM" (a sigla para os "membros informais" da central de espionagem), com direito a um "nome de guerra".

Aparelhos de escuta, quadros da época, fotografias e até um manequim vestido com o uniforme de um batalhão de choque alemão oriental fazem a decoração do restaurante, cujo sistema de som completa o ambiente com músicas da antiga república socialista. O cardápio, com capa de couro vermelho e adornado com o brasão alemão-oriental, é escrito com uma máquina de escrever original da época, lembrando um protocolo de espionagem.

"Achamos que a Stasi é uma página da história que temos que virar definitivamente. Por isso, consideramos que temos direito agora de também poder rir disso tudo e fizemos essa brincadeira", disse à BBC Brasil Willi Gau, um dos proprietários.

Willi teve a idéia ao visitar o museu da Stasi, abrigado na antiga sede da organização, na mesma rua em que viria a abrir seu estabelecimento. "Depois, fui comprando os objetos para decoração nos leilões do ebay", completou. "Foi o modo que encontrei para dar um diferencial e atrair uma clientela melhor, numa região onde os pequenos bares competem nos preços."

E a provocação deu certo. Aberto no fim de julho, o restaurante vem recebendo visitas diárias de jornalistas do mundo inteiro, atraídos pela atual controvérsia.

Marianne Birthler, responsável pelo departamento federal para administração dos arquivos da Stasi, criticou duramente a inauguração do bar como "uma idéia difícil de superar em termos de mau gosto". "Para os que conheceram as práticas perversas da Stasi, visitando o museu dedicado à organização, a cerveja desse bar certamente não vai descer bem", acrescentou ela, em entrevista a um jornal berlinense.

Um dos diretores do Memorial Hohenschönhausen, onde estão conservados os antigos cárceres nos quais eram mantidos os opositores do regime alemão oriental, Siegfried Reiprich definiu o estabelecimento como "uma ofensa para as vítimas da Stasi". "Faço um apelo aos proprietários que abram mão desse mau gosto e peço à sociedade que ignore o estabelecimento", pediu Reiprich (ele mesmo uma vítima do regime), em declaração à imprensa alemã.

Stasi

Fundada em 1950, a Stasi (abreviação para Ministerium für Staatssicherheit, Ministério para a Segurança do Estado, em alemão) era a principal organização de polícia secreta e inteligência da República Democrática Alemã (RDA) e conhecida como um dos serviços de inteligência mais efetivos do mundo, com um grande aparato de repressão.

A organização estava infiltrada em quase todos os aspectos da vida cotidiana dos alemães orientais, dispondo de uma ampla rede de informantes e com sofisticados métodos de intimidação e vigília.

O outro proprietário do bar, Wolfgang Schmelz, garantiu que a maioria das pessoas com quem conversa entende o tom satírico do restaurante. "Quem tem humor, sabe que o bar traz um tom de crítica. Não estamos querendo fazer daqui um ponto de encontro para antigos espiões comunistas ou coisa parecida", disse à BBC Brasil. Quem se sente ofendidos em um primeiro instante, segundo ele, entende o espírito da coisa quando conhece o lugar.

"Um conhecido chegou a ficar bastante irritado comigo quando soube da idéia", lembrou. "Mas semana passada eu o trouxe aqui, tomamos umas cervejas e ficou tudo certo."

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