quarta-feira, 16 de julho de 2008

Tumor facial altera vida sexual dos diabos-da-tasmânia

Um estudo realizado por cientistas australianos sugere que um tipo de doença que ameaça extinguir os diabos-da-tasmânia (também conhecidos como demônios-da-tasmânia) provocou uma mudança repentina no comportamento sexual da espécie.

Segundo a pesquisa, a doença do tumor facial dos diabos-da-tasmânia (DFTD, na sigla em inglês) levou os animais a começar a se reproduzir mais cedo. Além disso, os cientistas observaram que as fêmeas passaram a ter apenas uma ninhada, em vez das três que eram comuns à espécie.

O estudo, publicado na revista científica "Proceedings of the the National Academy of Sciences", ressalta que as mudanças no ciclo de vida da espécie podem afetar ainda mais as chances de sobrevivência desses animais.


Diabo-da-tasmânia tem sofrido redução drástica da população devido a tumor facial; animais estão se reproduzindo mais cedo
Diabo-da-tasmânia tem sofrido redução drástica da população devido a tumor facial; animais estão se reproduzindo mais cedo

Para realizar a pesquisa, os cientistas da Universidade da Tasmânia analisaram dados de cinco áreas onde as populações de diabos-da-tasmânia foram estudadas antes e depois da chegada da doença.

"Os diabos demonstraram sua capacidade em reagir ao aumento da mortalidade adulta provocado pela doença com um aumento de até 16 vezes na proporção de animais que exibem maturidade sexual precoce", diz o estudo.

A equipe de cientistas afirma que esse pode ser o primeiro caso em que uma doença infecciosa provoca um aumento na reprodução precoce de uma espécie de mamífero.

Dinâmica

O estudo indica que, nas cinco áreas analisadas, a DFTD mudou a estrutura etária das populações de diabos-da-tasmânia.

A equipe observou que, antes da chegada da doença, havia uma proporção maior de animais adultos com mais de três anos de idade.

Os cientistas observaram ainda que a doença parece ter influenciado o número de ninhadas produzido pelas fêmeas. De acordo com a pesquisa, antes da chegada da DFTD em uma das áreas analisadas --a Pensínsula de Freycinet, na costa leste da ilha australiana-- uma fêmea típica começava a se reproduzir com dois anos de idade e seguia produzindo uma ninhada por ano, durante três anos, antes de morrer, com cinco ou seis anos de idade.

"As fêmeas agora geralmente têm uma ninhada e podem não sobreviver por tempo suficiente para cuidar das crias. Por isso, agora elas passaram a ser criaturas que se reproduzem apenas uma vez", diz a pesquisa.

Tumor facial

Os sintomas da doença do tumor facial foram relatados pela primeira vez em 1996 e até 2007 a doença se espalhou para mais da metade da população dessa espécie na Tasmânia.

A causa da doença, que provoca desfiguração e se manifesta primeiramente como inchaços ou feridas ao redor da boca, ainda é desconhecida.

Não há registros históricos com a descrição dos animais desfigurados e, apesar de o câncer ser comum aos diabos-da-tasmânia, geralmente a doença se manifestava internamente.

Entre as teorias que tentam explicar o rápido surgimento da doença estão as de que ela teria sido causada por pesticidas ou por um vírus "adormecido" nos animais.

"A doença consistentemente fatal é um câncer infeccioso e as células cancerígenas se espalham diretamente por meio da mordida dos animais", explicam os cientistas. "As provas demonstram que os ferimentos mais profundos causados pelas mordidas acontecem entre os animais adultos durante a temporada de acasalamento."

As populações das áreas nas quais a doença se espalhou foram reduzidas em até 89%. Os tumores afetam inicialmente os adultos com dois ou mais anos de idade e a doença mata o animal dentro de cinco meses depois do seu surgimento.

Segundo os pesquisadores, a DFTD pode ser um tipo de doença dependente da freqüência, o que significa que ela pode não desaparecer mesmo quando o número de infectados cai a níveis baixos.

Os cientistas destacam que, por conta disso, há preocupação de que o maior marsupial carnívoro do mundo possa se tornar extinto dentro dos próximos 20 ou 25 anos.

"Essa doença nova pode ter conseqüências catastróficas para o diabo-da-tasmânia", afirmam os pesquisadores.

Nenhum comentário: