Cerca de 50 prostitutas, a maioria romenas e búlgaras, se espalham por 15 quilômetros de uma das vias mais antigas e movimentadas da região, a estrada Terraglio, nos arredores de Veneza.
A estrada liga as cidades de Mestre, Mogliano Veneto, Preganziol e Treviso. A iniciativa de algumas prostitutas ganhou uma página do jornal "La Repubblica", que repercutiu uma reportagem publicada pelo jornal local "Il Gazzettino".
O cliente receberia para cada programa um pequeno coração de tecido vermelho. Ao juntar três, teria direito a um programa gratuito.
O objetivo das prostitutas é aproveitar o verão --época de maior atividade-- para combater a crise econômica que se abate sobre o mercado do sexo nas estradas e driblar a queda do movimento devido à repressão das autoridades contra os clientes.
Os motoristas, potenciais clientes, são sujeitos ao pagamento de multas, que podem chegar até a 250 euros, se forem flagrados com prostitutas.
Milhagem
A estratégia, inspirada nos programas de milhagem e de fidelidade usados pelas companhias aéreas e pelos supermercados, não surpreende Pia Crove, diretora do Comitê pelos Direitos Civis das Prostitutas.
Crove conta que soube da promoção pelo jornal. "Ultimamente a linha dura de alguns municípios compromete o trabalho das prostitutas nas ruas", afirmou à BBC Brasil. "E elas usam a criatividade."
"O problema é que os clientes se afastam de uma determinada área e vão para outra", acrescentou. "E isso baixa o nível de segurança das prostitutas naquela região."
"Trabalhamos para dar assistência às prostitutas que queriam abandonar a profissão e dar assistência de saúde para a mulher", afirma Crove.
"Tínhamos conseguido que as prostitutas não deixassem os clientes jogarem preservativos usados nas ruas, mas todo este trabalho de educação fica comprometido pela intolerância."
Multas
No fim de 2007, o município de Mogliano Veneto baixou um decreto determinando a aplicação de multas a motoristas que abordassem as prostitutas ao longo da estrada.
Moradores de vários quarteirões ao longo da estrada Terraglio se organizam para denunciar a exploração da prostituição, crime previsto pela lei na Itália.
A prostituição dentro de apartamento é proibida, mas as autoridades fazem vista grossa até o momento em que recebem a reclamação de um vizinho.
O problema é que o perfil das prostitutas mudou com a entrada de novos países na União Européia. "Ficou difícil para a polícia expulsar as prostitutas pelo crime de imigração clandestina", diz Lóris Zamperoni, responsável pelo projeto Free Woman Project Mestre, um programa da Assessoria de Políticas Sociais de Veneza.
"A maioria delas não são mais extra-comunitárias como acontecia alguns anos atrás com as nigerianas e as albanesas, que foram substituídas", conta Zamperoni à BBC Brasil.
O projeto monitora e ajuda prostitutas e transexuais da região, entre eles brasileiros, com assistência médica, distribuição de preservativos e informações contra a violência e sobre a contaminação por doenças venéreas.
Passeata de protesto
Zamperoni diz que não conhecia a promoção e afirma que idéias como esta podem ser conseqüências do verão que já começou na Itália.
"Naquele trecho de estrada, existem cerca de 50 prostitutas, e nossos colaboradores que assistem essas mulheres não perceberam nada fora das normas", afirma.
A Assessoria de Políticas Sociais de Veneza está investigando o assunto, mas ainda não descobriu quem estaria por trás da promoção.
A iniciativa não seria a primeira na Itália. Alguns meses atrás, na cidade de Padova, as prostitutas saíram em passeata de protesto oferecendo desconto para os clientes multados ao abordá-las para negociar um programa.
Os dados estatísticos na Itália sobre o fenômeno da prostituição são apenas estimativas. Pia Crove afirma que existem cerca de 50 mil prostitutas no país.
Ela acrescenta que, das "25 mil mulheres que trabalham nas ruas, a maioria é de estrangeiras". "Outras 25 mil se prostituem em apartamentos e, neste caso, aumenta a presença de italianas porque é mais fácil para elas alugar um imóvel", conclui.
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